Olhares

02 junho 2007

O Ciúme I



O ciúme é um sentimento que não entendo.
Confesso a minha incapacidade e a minha inabilidade para o entender.

Li há dias, num espaço muito giro, uma dissertação sobre o ciúme e uma vez mais reconheci este meu handicap.

Fui educada numa casa onde os ciúmes não entravam, os meus pais nunca me mostraram esse sentimento e de pequenina nunca o apreendi. Não tenho irmãos e nem a experiência da disputa e do ciúme entre irmãos eu tive.

Quando nasci para o mundo das emoções não o trazia na minha bagagem. Como sempre me ensinaram a tolerância, também nunca o desenvolvi dentro de mim.

Talvez por ter sido criada com poucos bens materiais, sempre gostei de partilhar o pouco que tinha com os meus amigos, também eles gente com pouco. Por isso nunca fui possessiva, nem nas coisas, nem nas pessoas.

Ao longo dos anos fui formando a minha personalidade e esse sentimento nunca fez parte dela.

Lembro-me de um episódio dos meus tempos de liceu (sim! Gosto de dizer liceu, nunca andei em escolas secundárias), namorava com um amigo e vizinho, já há muito que tínhamos passado por fases de atracção, o que era normalíssimo naquelas idades (teríamos para aí uns 15 ou 16 anos). Ele, filho do meio numa casa de 3 rapazes, eu, filha única e a mais próxima da idade dele dentro do nosso círculo de amigos.

Lembro-me bem da emoção e da paixão que vivíamos, como nos escapávamos às escondidas de tudo e todos, como nos perdíamos e nos estonteávamos um com o outro.

Andávamos nisto há meses… a certa altura ele começou a falar com frequência no nome de uma colega de turma, no início não me chamou a atenção, mas quando a conversa começou a passar por: “-Fui levar fulana à paragem do autocarro… -Estive a falar com fulana à saída da ginástica…” alguma coisa me começou a bater cá dentro…

E não… Não eram ciúmes! Apenas a sensação de que ele estava baralhado nas suas emoções!

Num dos nossos momentos habituais de “meles”, aproveitei para ter uma conversa mais séria (desculpa, primeiro aproveitei os “meles”), disse-lhe qualquer coisa do género:

- Acho que se calhar gostas mais de fulana do que pensas, e acho que deves ver bem isso!

Claro que o pobre negou! Mas eu estava decidida!
Disse-lhe que não estava a acabar nada, nem a pôr em causa os sentimentos dele, mas preferia que ele fosse clarificar o que sentia por ela. Perceber os sinais que o coração lhe dava; eu estaria sempre ali, no mesmo sítio e a sentir o mesmo por ele.

- Vai! Dá um tempo comigo e continua a estar com ela como tens estado até agora, depois se verá!

E ele foi, cabisbaixo. Conhecia-me a personalidade forte e sabia que não valia a pena argumentar. Cruzávamo-nos todos os dias, como sempre, apenas não dávamos as nossas fugidas para os “meles”… nunca senti qualquer dor ou raiva, apenas sabia que não queria ao meu lado alguém que não quisesse estar ali, ou que mais tarde se arrependesse das suas escolhas!

E ao longo da minha vida sempre me regi por este princípio! Quem me quer, quer-me pelo que eu sou, e não pelo que imagina que eu posso ser ou fazer!

Escusava de dizer, mas eles casaram, têm três filhos lindos e ele ainda hoje me fala com um carinho especial. Ela nunca me tolerou muito bem, nem nunca quis saber porquê, mantemos uma relação cordial, mas distante, porque nunca quis que ela me sentisse como uma possível ameaça, porque não sou!

Com este episódio, perdi-me no sentido deste texto, mas continuarei o tema noutra ocasião, porque sinto necessidade de escalpelizar esta minha inabilidade para entender o ciúme!

E aqui assinarei:

Como uma lágrima!
posted by Teardrops at 18:22

6 Comments:

Eu entendo o ciúme de uma forma diferente, não o sinto, e não lhe ligo nenhuma quando faz arremesso ao meu pobre coração. Mas se algum chega e se instala, só significa uma coisa, perdi a confiança em alguém que está ao meu lado, e aí sou a primeira a ir embora, pois não consigo conceber estar com alguém em que não confio. Eu não sou tão boa pessoa como tu, sou um bicho irracional e violento quando me atraiçoam a confiança. E assim parto, o cíume pode existir, mas é sempre o resultado de confiança que deixou de existir. Não luto por ninguém, não baixo a cabeça, posso ceder para que tb cedam, mas qdo tenho que lutar, viro as costas, serei cobarde? ou serei tão lilás por dentro que prefiro ir a mostrar toda a minha fúria....? não faço ideia, mas que todas as pessoas deviam ser como tu, deviam.

Beijinho

02 junho, 2007  

Já somos dois.
Até estabelecer uma relação sofro até mais não roido de incertezas depois... Não sou ciumento. ConVivo na maior das confianças com quem me relaciono e se o ciume vem é para assistir ao final de qualquer coisa.

O que eu siou não interessa pois até me considero 1/2 anormal, interessa sim que encontres paz.
Bjs

03 junho, 2007  

1º Está lindo, lindo lindo :)

Agora o ciúme. É sem dúvida o resultado de insegurança. Só quem se sente inseguro, sente ciúme. Um ciúme simples e inofensivo, possível de anulação apenas por meia dúzia de palavras, carinhos e reflexões.

"Deixar o pássaro solto (é uma boa opção) se regressar é porque é meu, se partir é porque nunca foi"
Portanto das duas uma: ou a confiança é reposta e tudo bem; ou realmente há justificação para esse ciúme e então deixemo-lo partir e tudo bem.

Quando a insegurança "bate" demasiado profunda, o ciúme aguça de uma forma descontrolada e paranoica. Sem justificação, sem razão, sem lógica. Torna-se então perigoso para quem sente e para quem é alvo.

03 junho, 2007  

Bonnie

Que tonta tu és!
És agora lilás por dentro? Que é lá isso? Há lá alma mais cor de rosa que a tua?
Eu sou muito racional e tento entender as coisas, mas há algumas que não consigo mesmo perceber...

Um beijo

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Erecteu

Eu também sou assim 1/2 anormal... se calhar é por isso que mereço a tua amizade...

Encontrarei, sim, no final das lágrimas... agora preciso deixá-las escorrer...

Um beijo

««««««««««««««««««

For You

Disseste tudo!
Ando eu para aqui a dissertar para ver se entendo o ciúme e vens tu esclarecê-lo tão bem...!

Um beijo

03 junho, 2007  

Um episódio da tua vida muito bonito :) Gostei muito do teu blog *

04 junho, 2007  

Catarina

Não sei como me encontraste, mas benvinda e obrigada pela tua simpatia.

Um beijo

05 junho, 2007  

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